segunda-feira, 11 de abril de 2011

Análise Crysis 2




Foram quatro anos de desenvolvimento, mas Crysis 2 chegou para deixar de lado a selva das ilhas Lingshan em prol da “selva de pedra” da Nova York de 2023. E, para quem passou esse tempo todo no aguardo, a espera valeu muito a pena: Crysis 2 se saiu um jogaço, que não se espelha nem um pouco nos outros sucessos atuais do gênero. Missões sem afunilamento de um Call of Duty e o excelente uso das habilidades da Nanosuit 2.0 fazem dele uma das melhores opções do ano (e isso contando todos os gêneros).

Guerra do futuro

A trama é complicada, e esse é um dos poucos revezes do game: é até difícil acompanhar a história sem se perder um pouco. O jogo se passa em 2023 (três anos após o primeiro Crysis) e começa com cenas de uma Nova York devastada pela invasão dos CEPHs, os alienígenas com tentáculos. Ao mesmo tempo, a cidade está sendo acometida por um misterioso vírus que destrói as células humanas. Clima de caos total.

A US Marine Corps Force Recon é convocada para enfrentar os aliens, ao mesmo tempo em que o protagonista Alcatraz (que só está vivo porque está com a Nanosuit 2.0) é perseguido pelos soldados da CryNet Systems, que acredita que ele é o Prophet (do primeiro Crysis). A situação piora porque o objetivo de Alcatraz é proteger o cientista Nathan Gould, também alvo da CryNet por conta de seu alto nível de conhecimento em nanobiologia.  Por causa dessa confusão toda, será preciso, na pele de Alcatraz, enfrentar não só os alienígenas, mas soldados da CryNet também.

Seja invisível

A missão não será nada fácil, mas Alcatraz conta com uma ajuda e tanto: um arsenal poderoso, com metralhadoras, pistolas, lançadores de foguete e até algumas armas inusitadas, como uma que literalmente “frita os inimigos”; além da tal Nanosuit 2.0. A vestimenta especial, grande destaque do game, dá as habilidades de invisibilidade (aí, seus inimigos não o veem), super-pulo (para alcançar lugares mais altos) e força (maior resistência a tiros e impacos ao pular de lugares altos) para o nosso herói. As três utilizam energia de uma barra que fica no canto inferior direito da tela  - senão ia ser fácil demais, né. O bom é que realmente será preciso utilizar, e muito, as três habilidades, e ainda administrar bem o uso da barra de energia.



A parte estratégica do jogo consiste em administrar bem os recursos da Nanosuit 2.0. Uma outra barra, desta vez no canto esquerdo da tela, mostra o nível de “percepção” dos inimigos em relação a seus movimentos. Faça barulho ou dê uns tiros sem tomar cuidado, os caras maus saberão que você está lá e prestarão mais atenção. Não que a inteligência artificial seja primorosa, mas em muitos momentos será preciso mesmo ficar parado com a armadura no modo invisível esperando a poeira baixar.

De quebra, o visor da Nanosuit 2.0 ainda dá opções táticas em algumas situações. O game avisa sobre estas tais opções, e, ao ser ativado, o display recomenda uma ação a ser executada. Um tipo de CEPH, o “heavy”, é bem forte e o melhor é não enfrentá-lo - aí o jogo sugere uma aproximação no modo invisível, por exemplo. Ainda dá para “taggear” os inimigos e saber onde eles estão, mesmo que por trás de estruturas.

Como toda armadura que se preze, a Nanosuit 2.0 pode receber upgrades. Eles são divididos em quatro categorias (armor, power, tactical e stealth), e as melhorias vão desde diminuir o tempo de “cooldown” da vestimenta até melhorar sua visão dos CEPHs invisíveis. Para adquirir os upgrades, são utilizados “nanocatalisadores” deixados por CEPHs abatidos. O bom é que, após terminar o game, o jogador pode começar de novo usando todos as melhorias incorporadas na jogatina anterior.

As dezoito fases do jogo (tem mais uma, mas é só prólogo) são lineares, sim (o mapa mostra onde está o objetivo a ser cumprido), mas há muito menos scripts que num Call of Duty, por exemplo. Os cenários são amplos, sem afunilamento, e há dezenas de lugares que nem precisam ser explorados, mas guardam a maioria dos itens colecionáveis (dog tags, souvenirs de Nova York, chaves de carro e e-mails). Mesmo quem não for atrás dos colecionáveis poderá se deleitar com as inúmeras opções de esconderijo e rotas alternativas que os cenários oferecem.

O bom é que o desenvolvimento da trama e dos objetivos não está atrelado à matança dos inimigos - o objetivo é chegar no local marcado no mapa, então quem optar por uma abordagem mais silenciosa poderá fazê-lo com um número bem baixo de mortes. Quer dizer, dá para passar batido pelos inimigos utilizando o stealth, ou dá para acabar com cada um de longe, com uma arma com mira telescópica. Ou dá para chegar invadindo e atirando em todo mundo.
Em tempo: os checkpoints. Eles são os maiores vilões dos jogos de tiro atuais, já que, mesmo na dificuldade mais alta, morrer significa voltar uns dois ou três passos apenas. Mas em Crysis 2 eles são bem mais espaçados, ao ponto de, em determinados trechos, ser preciso completar até três objetivos antes de se chegar ao próximo. Na dificuldade mais alta o game não é necessariamente difícil, mas em alguns momentos dá para se pegar torcendo para o checkpoint chegar logo.

Crysis 2 surge como um dos melhores jogos de tiro dos últimos tempos, até por uma falta certa de competência dos concorrentes. Verdade seja dita: os últimos grandes sucessos em matéria de tiro em primeira pessoa deixaram os jogadores mal acostumados. Call of Duty, Halo e até o recente Bulletstorm trazem ação frenética de qualidade, mas é tudo muito linear, com scripts de sobra e cenas não-jogáveis que tentam injetar uma dose extra de emoção na aventura. Crysis 2 é diferente: coloca o jogador no centro da açao e dá liberdade para que ele chegue aos objetivos como bem entender.

Refinamento técnico

Crysis 2 é basicamente o que a Crytek havia prometido: o game de console mais bonito de todos os tempos. Não apenas pela grandiosidade dos cenários, mas pelos efeitos de luz. Todos os objetos refletem a luz de forma dinâmica, e não será raro dar uma parada na matança apenas para observar o comportamente dela. Agradeçam à CryEngine 3. De quebra, a física cumpre bem seu papel, já que carros e outros objetos reagem de forma até realista aos tiros e socos do nosso Alcatraz.

Mas o destaque, mesmo, é para a parte sonora: a trilha sonora é simplesmente espetacular. As faixas foram compostas por Tilman Sillescu, Borislav Slavov (os dois com experiência em games) e Hans Zimmer (compositor das trilhas dos filmes Batman Begins e O Cavaleiro das Trevas, para citar apenas dois). O resultado é uma trilha do mesmo nível que você ouviria em algumas das maiores produções do cinema, para dizer o mínimo. Trabalho de primeira linha e clima de tensão na medida certa.

O multiplayer

Sobre o multiplayer, Crysis 2 continua bem competente. São 12 mapas baseados nos cenários da campanha, disputados em seis modos de jogo que variam dos clássicos todos-contra-todos, matança entre times e capture-the-relay (captura de bandeira, basicamente) aos mais elaborados crash site (um king of the hill com outro nome), assault (um time precisa invadir determinada parte do cenário, o outro precisa defender) e extraction (com tanques).

Há upgrades para armadura, possibilidade de destravar armas e, claro, sistema de evolução por níveis de experiência. Basicamente tudo que os melhores jogos de tiro atuais já oferecem. Não deixa de ser divertido, apesar de não trazer realmente nada de inovador.

Pode comprar

Crysis 2 é um belo tapa na cara do “estilo CoD” de ser. É um jogo de tiro completo, divertido e que consegue transmitir emoções dentro do próprio game, sem apelar para cutscenes demoradas e repletas de explosões. Mantém o jogador vidrado do começo ao fim, e, melhor ainda, o faz pensar antes de agir, graças ao irrepreensível bom funcionamento das três habilidades da Nanosuit 2.0. Tudo isso aliado a gráficos belíssimos e uma das melhores trilhas sonoras originais da história dos vídeogames só deixam uma certeza: Crysis 2 é obrigatório e, desde já, candidato a melhor jogo de tiro da geração atual.

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